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terça-feira, 28 de abril de 2015

Menos pressa

  Há aproximadamente três semanas resolvi fazer uma horta aqui em casa. A ideia parecia maravilhosa, afinal de contas eu teria alimentos naturais, temperos fresquinhos, além de achar um charme.
  Analisada a ideia, era hora de pôr o plano em prática. Comprei todos os equipamentos necessários: terra adubada, sementes, enxada para tirar a grama do local e até uma ferramenta que me indicaram na loja, mas que até agora, confesso, não consegui encontrar serventia. Fiquei a tarde toda naquela função de tira a terra, insere a semente e coloca a terra de novo.
  Até que finalmente estava tudo pronto, quer dizer, quase pronto, porque eu ainda teria que regar diariamente antes de sair para o trabalho - o que me tiraria uns quinze minutos de sono - e isso tudo antes mesmo de conseguir ver uma flor ou uma folha sequer para que me sentisse motivada a continuar. Eu deveria pressupor que estava tudo "ok" e continuar regando e regando.
  Só que, passada uma semana de cuidados diários, comecei a questionar se aquela plantação de fato vingaria e a pensar em inúmeras causas para que não tivesse dado certo, como o cachorro ter cavado parte dela, a quantidade de exposição ao sol ou então que eu não tivesse feito direito, afinal de contas era a minha primeira vez. E pensando nisso tudo, acabei desanimando e deixando ela de lado. Agora eu regava dia sim, dia não e às vezes nem lembrava de dar uma olhada.
  O tempo passou e eu estava decidida a iniciar uma nova empreitada, mas um fato ocorrido hoje pela manhã me deixou envergonhada: as primeiras folhas apareceram. Sim, elas estavam vivas o tempo todo, mas eu, na minha ignorância, não tive a paciência e a sabedoria suficientes para esperar.
  Cresci numa época em que tudo começa e termina tão rápido que me pareceu que tinha algo de errado com aquilo. E aquilo era nada mais, nada menos do que a natureza. Nós somos a natureza, mas esquecemos que demoramos nove meses para nascer e mais alguns anos para nos tornarmos seres independentes.
  Obviamente as couves-manteiga não surgem na prateleira do supermercado. Alguém teve que cuidar delas para que estivessem prontas. E nós, ou a maioria de nós, não sabemos mais cultivar as coisas. Não cultivamos mais relacionamentos, amizades, hobbies, paixões. Tudo começa e termina na mesma velocidade que uma atualização de status. E é por isso que hoje em dia temos muito menos pessoas realmente boas naquilo que fazem. Não temos paciência, não temos tempo, não temos vida.
  A partir de agora sempre que eu me sentir ansiosa para terminar algo ou achar que certa coisa não está acontecendo na velocidade que eu julgo correta, vou me recordar disso e me lembrar que a minha noção de tempo está muito distorcida. Tudo leva o tempo certo que deve levar. Alguns tempos são mais lentos outros mais rápidos. Tudo na sua hora.



8 comentários:

  1. Muito bom! Creio que todos que estão tentando viver na contramão deste sistema doente irão se identificar. O texto propõe uma excelente reflexão e nos convida a experimentarmos pequenas atitudes que, quem sabe, nos farão pensar: EureKa!

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  2. Gratidão pelo teu comentário, Cíntia! Coisa boa ter amigos. Um beijão.

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  3. Muito eu ! Sempre ansiosa...adorei a reflexão... Obrigada por compartilhar, nunca pare...bjoa

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    1. Acho que todos estamos tendo que conviver com esses sentimentos atualmente, Jose. Obrigada pelo feedback. É muito importante pra mim. Beijos

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