Assim como todo mundo eu tenho muitas lembranças da minha
infância. Lembro de brincar de pega-pega, caçador, taco e por aí vai. Lembro
também de como tudo era imenso. A casa da minha avó era muito grande e a da
minha bisavó então, maior ainda. Parecia uma floresta com grandes árvores e gigantescos
labirintos. Sentia que eu poderia me perder por lá e nunca mais achar o caminho
de volta. Isso também acontecia quando eu ultrapassava os limites impostos
pelos meus pais e ia até outra rua do meu bairro. A sensação era de que eu estava em outro
mundo porque, naquela época, as ruas, as casas, e os sentimentos eram enormes.
Quando já adulta estive nesses mesmos lugares, percebi como eles eram na realidade pequenos. E quero dizer pequenos de verdade. A casa da
minha avó não aparentava mais ter tanto espaço para correr e a floresta da
minha bisavó parecia mais um jardim. As ruas onde eu morava se demonstraram tão
inofensivas que até estranhei o cuidado dos meus pais em não me deixar
desbravar aquelas quadras.
Hoje eu percebo que
na realidade a minha percepção do tamanho das coisas se dava em relação ao meu
próprio tamanho. Pelo fato de a minha estatura ser menor naquele tempo, tudo ser
tornava maior do que na realidade era. Tudo questão de ponto de vista.
Às vezes acreditamos que temos um grande problema, em alguns casos pode ser verdade, mas na maioria
das vezes estamos dimensionando esse problema em relação ao nosso “mundinho”. Certamente
se o universo fizesse esse mesmo exercício e decidisse olhar para o seu
problema ele diria que não passa de um pontinho que ele mal consegue determinar o que é. Tão pequeno lhe parece.
Talvez devêssemos mudar
nossos pontos de vista de vez em quando. Afinal de contas, não queremos viver nesse mundo como uma criança que sente que pode se perder dentro da própria casa.