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segunda-feira, 4 de maio de 2015

Releituras obrigatórias

  Nesse final de semana fui visitar a família e resolvi "fazer uma limpa” na estante de livros dos meus pais. Peguei emprestado, leia-se roubei, uns sete livros. A maioria eu já havia lido há alguns anos luz, mas achei interessante a ideia de lê-los novamente com os olhos da pessoa que sou hoje. Sim, pois eu acredito que ao longo da vida vamos nos transformando no tipo de ser humano que pretendemos ser e que, cá entre nós, eu ainda estou drasticamente distante.
  Voltando ao assunto dos livros, minha primeira escolha foi o livro A luneta mágica do Joaquim Manuel de Macedo, primeiro porque tinha vaga lembrança de que nele havia uma lição de moral muito interessante no fim e segundo porque me pareceu ser o menor deles e seria ótimo para servir de distração na viagem de volta pra casa.
  O livro fala sobre um homem que é míope moral e fisicamente. Moral porque não consegue pensar por sua própria cabeça, agindo sempre conforme aquilo que lhe é imposto, e fisicamente por ser praticamente cego mesmo. Não conseguindo ajuda por meios científicos, ele resolve recorrer a um mágico que lhe fornece a tal luneta mágica. Ela lhe dá o poder de ver o lado superficial das pessoas e também a maldade por trás delas. O que acaba por curar tanto a deficiência física quanto a moral.
  Enfim, o fato é que quando li esse livro, há aproximadamente uns seis anos, meu entendimento dele foi bastante superficial. Mas não foi por preguiça de pensar e sim porque meus pensamentos e ideias eram diferentes dos de agora. Eu havia lido com vontade e com cem por cento do senso crítico que eu poderia ter, sendo uma menina de vinte anos com as experiências de vida que eu tinha.
  É uma pena que não possamos retomar algumas leituras que fazemos de acontecimentos, pensamentos e pessoas alguns anos depois. Seria incrível perceber como nossas certezas eram incertas.
  Algumas pessoas estufam o peito pra falar que não mudam de opinião. Elas acreditam que isso demonstra razão e estabilidade, como se mudar de opinião fosse negar a pessoa que elas foram um dia. A meu ver mostra amadurecimento e humildade, afinal de contas, apontar o dedo para o seu próprio nariz não é lá uma tarefa que pode ser considerada fácil.
  A gente tem muitas certezas na vida, mas não devemos aceitá-las assim, perpetuamente. Já que não podemos relê-las como um livro antigo, podemos ao menos repensa-las. Pode ser que você ria muito da criatura que era ou pode ser que você se perceba exatamente igual. Se o seu caso for o segundo, meus pêsames. Não desejo isso a ninguém. 

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Ponto de vista

   Assim como todo mundo eu tenho muitas lembranças da minha infância. Lembro de brincar de pega-pega, caçador, taco e por aí vai. Lembro também de como tudo era imenso. A casa da minha avó era muito grande e a da minha bisavó então, maior ainda. Parecia uma floresta com grandes árvores e gigantescos labirintos. Sentia que eu poderia me perder por lá e nunca mais achar o caminho de volta. Isso também acontecia quando eu ultrapassava os limites impostos pelos meus pais e ia até outra rua do meu bairro.  A sensação era de que eu estava em outro mundo porque, naquela época, as ruas, as casas, e os sentimentos eram enormes.
  Quando já adulta estive nesses mesmos lugares, percebi como eles eram na realidade pequenos.  E quero dizer pequenos de verdade. A casa da minha avó não aparentava mais ter tanto espaço para correr e a floresta da minha bisavó parecia mais um jardim. As ruas onde eu morava se demonstraram tão inofensivas que até estranhei o cuidado dos meus pais em não me deixar desbravar aquelas quadras.
  Hoje eu percebo que na realidade a minha percepção do tamanho das coisas se dava em relação ao meu próprio tamanho. Pelo fato de a minha estatura ser menor naquele tempo, tudo ser tornava maior do que na realidade era. Tudo questão de ponto de vista.
   Às vezes acreditamos que temos um grande problema, em alguns casos pode ser verdade, mas na maioria das vezes estamos dimensionando esse problema em relação ao nosso “mundinho”. Certamente se o universo fizesse esse mesmo exercício e decidisse olhar para o seu problema ele diria que não passa de um pontinho que ele mal consegue determinar o que é. Tão pequeno lhe parece.
  Talvez devêssemos mudar nossos pontos de vista de vez em quando. Afinal de contas, não queremos viver nesse mundo como uma criança que sente que pode se perder dentro da própria casa.

terça-feira, 28 de abril de 2015

Menos pressa

  Há aproximadamente três semanas resolvi fazer uma horta aqui em casa. A ideia parecia maravilhosa, afinal de contas eu teria alimentos naturais, temperos fresquinhos, além de achar um charme.
  Analisada a ideia, era hora de pôr o plano em prática. Comprei todos os equipamentos necessários: terra adubada, sementes, enxada para tirar a grama do local e até uma ferramenta que me indicaram na loja, mas que até agora, confesso, não consegui encontrar serventia. Fiquei a tarde toda naquela função de tira a terra, insere a semente e coloca a terra de novo.
  Até que finalmente estava tudo pronto, quer dizer, quase pronto, porque eu ainda teria que regar diariamente antes de sair para o trabalho - o que me tiraria uns quinze minutos de sono - e isso tudo antes mesmo de conseguir ver uma flor ou uma folha sequer para que me sentisse motivada a continuar. Eu deveria pressupor que estava tudo "ok" e continuar regando e regando.
  Só que, passada uma semana de cuidados diários, comecei a questionar se aquela plantação de fato vingaria e a pensar em inúmeras causas para que não tivesse dado certo, como o cachorro ter cavado parte dela, a quantidade de exposição ao sol ou então que eu não tivesse feito direito, afinal de contas era a minha primeira vez. E pensando nisso tudo, acabei desanimando e deixando ela de lado. Agora eu regava dia sim, dia não e às vezes nem lembrava de dar uma olhada.
  O tempo passou e eu estava decidida a iniciar uma nova empreitada, mas um fato ocorrido hoje pela manhã me deixou envergonhada: as primeiras folhas apareceram. Sim, elas estavam vivas o tempo todo, mas eu, na minha ignorância, não tive a paciência e a sabedoria suficientes para esperar.
  Cresci numa época em que tudo começa e termina tão rápido que me pareceu que tinha algo de errado com aquilo. E aquilo era nada mais, nada menos do que a natureza. Nós somos a natureza, mas esquecemos que demoramos nove meses para nascer e mais alguns anos para nos tornarmos seres independentes.
  Obviamente as couves-manteiga não surgem na prateleira do supermercado. Alguém teve que cuidar delas para que estivessem prontas. E nós, ou a maioria de nós, não sabemos mais cultivar as coisas. Não cultivamos mais relacionamentos, amizades, hobbies, paixões. Tudo começa e termina na mesma velocidade que uma atualização de status. E é por isso que hoje em dia temos muito menos pessoas realmente boas naquilo que fazem. Não temos paciência, não temos tempo, não temos vida.
  A partir de agora sempre que eu me sentir ansiosa para terminar algo ou achar que certa coisa não está acontecendo na velocidade que eu julgo correta, vou me recordar disso e me lembrar que a minha noção de tempo está muito distorcida. Tudo leva o tempo certo que deve levar. Alguns tempos são mais lentos outros mais rápidos. Tudo na sua hora.



segunda-feira, 27 de abril de 2015

Reflexões sobre a primeira tatuagem

   Desde que me conheço por gente sou uma admiradora do universo das tatuagens, mas por ironia do destino nunca tive ao mesmo tempo dois requisitos básicos para a realização de tal ato: maioridade e coragem. 
   Sim, pois quando era adolescente coragem não me faltava. Até hoje tenho certeza que se meus pais não tivessem me "barrado" eu teria feito uma grande caveira ou algo do gênero, tamanha era a minha coragem.
   No entanto, depois que realizei meu décimo oitavo aniversário me faltava coragem e me sobravam incertezas sobre qual desenho escolher para o resto da minha existência. Sempre me ficava uma pulguinha atrás da orelha sobre o desenho, se ele me representaria, se seria algo exclusivo e até mesmo se ficaria bem com o meu estilo.
   Até que certo dia tive a oportunidade de fazer amizade com um tatuador muito bom que soube desenhar aquilo que eu realmente estava procurando. E naquele momento eu estava certa. Sim, era aquilo que eu realmente queria! Finalmente eu estava madura o suficiente para decidir sobre uma coisa tão banal.
   Passado o frenesi do final de semana e a adrenalina de ter feito minha primeira tatuagem, chegou a segunda-feira e com ela milhões de perturbações: Por que fui fazer isso? Vai ficar pra sempre no meu corpo!! Quem me garante que daqui há dois anos não vou achar esse desenho horroroso e querer esconder?
   E esse momento me fez perceber que a tatuagem exemplifica muito bem as escolhas que temos que fazer ao longo da vida. Todas as nossas escolhas são eternas. 
   Se você decidir terminar seu relacionamento amoroso, mesmo que você encontre outra pessoa, aquele seu relacionamento vai estar terminado para sempre. Se você decidir cortar os cabelos, os cabelos crescem, mas para sempre, durante aquele período, você foi uma pessoa de cabelos curtos. 
   Sendo super extremista cheguei a considerar a possibilidade da liberação de tatuagens para menores de dezoito anos, para que se aprenda desde jovem que as suas escolhas são eternas e eles vão fazer parte de você para sempre.
   Que façamos muitas escolhas e muitas tatuagens, porque a graça da vida está nessa adrenalina da incerteza de ter feito a escolha certa. Eu, particularmente, já estou pensando em fazer uma nova escolha que ficará desenhada no meu corpo eternamente.

domingo, 26 de abril de 2015

Oportunidades

    Sempre fui daquele tipo de pessoa que acha que o tempo passa rápido de mais e que as oportunidades que a gente tem acontecem no máximo uma vez ou duas. Na minha cabeça era como se a vida funcionasse como um grande rodízio de pizza, onde você deveria estar atento para o momento exato em que a pizza de alho e óleo chegasse, caso contrário, o garçom não lhe ofereceria novamente ou na melhor das hipóteses lhe chegaria gelada, dura e esturricada no seu prato.
   Hoje, no alto dos meus vinte e seis anos e dois meses de idade, eu percebo o quão certa eu estava a respeito disso e quanto de sorte há nessa nossa existência, afinal de contas no frigir dos ovos a frase "o sol nasce para todos" não parece soar com tanta veracidade quanto deveria, uma vez que a vida não funciona como a matemática com regras claras e preestabelecidas. Nós vivemos sempre uma única vez. Já dizia Renato Russo "a primeira vez é sempre a última chance" e diante disso, você deve concordar comigo que o aprendizado se torna muito mais complexo.
   Entendo que quando dizemos que as oportunidades são para todos, o que na verdade estamos querendo dizer é que todos têm oportunidades, porém elas não são as mesmas para todos. Cada pessoa tem uma história e caminho completamente diferentes, mas cabe a nós aproveitarmos as que surgirem - e se surgirem - da melhor maneira possível. Eu estou tentando e você?